Toda a dificuldade que temos em compreender a palavra “sacrifício” reside nas múltiplas interpretações que demos a ela, ao longo desta civilização. Mas, ainda em nossos dicionários, a palavra “sacrifício” continua com seu significa original: oferenda à divindade.
O Gita define Deus como o sacrifício e o sacrificador. Ele é ao mesmo tempo a oferenda e aquele que a oferece. E não poderia ser diferente, porque Deus é tudo, e está em tudo. Quando Krishna detalha os tipos de sacrifício, ele está apenas citando aquilo que nós, de boa vontade, e porque assim o desejamos, renunciamos a algo, apenas para demonstrar a Deus o nosso amor a Ele e aos outros seres humanos.
Toda oferenda sincera a Deus é algum tipo de renúncia a algo que nos dá satisfação imediata, em nome de algo maior, que é o que deve ser feito para o bem de todos. Só se consegue renunciar a algo, quando se tem algo maior em nome do que renunciar.
Sacrificar-se, segundo o Gita, é apenas fazer uma escolha, entre os caprichos do ego e o que a consciência exige que seja feito.
Deus não nos pede que renunciemos a nada do que precisamos, mas apenas que avancemos na compreensão daquilo que somos. E o que somos é muito mais do que seres movidos pelo prazer imediato.
Somos seres que buscam o equilíbrio em todas as suas ações. Querendo ou não, sabendo ou não, desejando ou não.
O sacrifício ao qual o Gita se refere é a renúncia aos caprichos do ego.
E por um simples motivo.
Enquanto utilizamos a energia divina correndo atrás de satisfação imediata, estamos nos afastando da realização e da felicidade, que só podem ser conseguidas pela busca do equilíbrio.
Não há nada de mal em aproveitar as boas coisas da vida, desde que essa busca pelo que pensamos serem as boas coisas da vida não nos afaste de nossa missão, ou prejudiquem a missão dos outros seres humanos.
Porque, longe de nossa missão, não há felicidade nem realização.